update literário
"O Sexo e a Morte" - Jacques Ruffié
Psicanálise, comportamentos sexuais, ritos amorosos e curiosidades históricas e biológicas. Um livro cheio de saber, com o seu quê de teoria que se pode tornar chata quando não me apetece ler e saber a pouco quando apetece.
Demorei tempos infindos a termina-lo, quer pela falta de tempo, quer pelas constantes remissões que fiz à "Enciclopédia da Morte e da Arte de Morrer", para comparar termos e definições. Contive-me nas anotações e marcações, senão todo o livro seria um monte de riscos a lápis.
"Num penitencial anónimo de 1490, a fornicação é «mais detestável que o homicídio ou roubo, que não são substancialmente maus». Porque, em caso de necessidade, podemos ser levados a matar ou a roubar; mas nada nos obriga a fornicar. Este tabu sexual, ou melhor, esta proibição do prazer, impregnará durante muito tempo a cultura ocidental. O seu peso sociológico ainda é perceptível nos nossos dias. É caso para perguntar por que razão."
Foi-me pedido para o ler e fazer uma crítica... eu li, mas a crítica acabou por ser dispensada.
E quando começei a ler não sabia o que esperar. Parecia-me demasiado pequeno... demasiado fino e espartano. Transcrito para páginas A4 não deve dar mais de 10. Apesar de ter lido grande parte da obra do velho, nunca tinha lido um conto. A primeira coisa que pensei foi que o gajo se acha tão bom, que se dá ao luxo de escrever uma vintena de páginas e, toma lá mais um best-seller para a toda a gente comentar e falar. Mas abri e li - 15 ou 20 minutos depois terminei e percebi o que ele queria transmitir: apenas «Pede e acredita, e ser-te-á concedido» - seja um barco, seja o amor, seja a lua...
E quando começei a ler não sabia o que esperar. Parecia-me demasiado pequeno... demasiado fino e espartano. Transcrito para páginas A4 não deve dar mais de 10. Apesar de ter lido grande parte da obra do velho, nunca tinha lido um conto. A primeira coisa que pensei foi que o gajo se acha tão bom, que se dá ao luxo de escrever uma vintena de páginas e, toma lá mais um best-seller para a toda a gente comentar e falar. Mas abri e li - 15 ou 20 minutos depois terminei e percebi o que ele queria transmitir: apenas «Pede e acredita, e ser-te-á concedido» - seja um barco, seja o amor, seja a lua...
Não tem uma Blimunda, mas tem uma mulher da limpeza, que como em quase todas as obras dele, faz o papel da mulher que nos liga, a nós homens, ao mundo, e nos faz perceber que é por elas que cá andamos.
E é preciso ter tomates para escrever um conto com aquela pontuação e frases intermináveis!
A leitura integral do conto está disponível aqui.
A leitura integral do conto está disponível aqui.
"Ela segurou as velas, uma em cada mão, ele acendeu um fósforo, depois, abrigando a chama sob a cúpula dos dedos curvados, levou-a com todo o cuidado aos velhos pavios, a luz pegou, cresceu lentamente como faz o luar, banhou a cara da mulher da limpeza, nem seria preciso dizer o que ele pensou, É bonita, mas o que ela pensou, sim, Vê-se bem que só tem olhos para a ilha desconhecida, aqui está como as pessoas se enganam nos sentidos do olhar, sobretudo ao princípio. Ela entregou-lhe uma vela, disse, Até amanhã, dorme bem, ele quis dizer o mesmo doutra maneira, Que tenhas sonhos felizes, foi a frase que lhe saiu, daqui a pouco, quando lá estiver em baixo, deitado no seu beliche, vir-lhe-ão à ideia outras frases, mais espirituosas, sobretudo mais insinuantes, como se espera que sejam as de um homem quando está a sós com uma mulher."
Para não variar, lido quase na íntegra na minha sala de leitura preferida - o comboio.
O prefácio deixou-me de pé atrás: «Haut Mal é o meu primeiro romance escrito». Depois da experiência de "A Força Vital", não me apetecia perder tempo com mais um barrete erótico. Mas, supresa das supresas - o senhor Serge Filippini tem um dom e sabe escrever!
Foi uma agradável surpresa descobrir novas formas de ler erotismo, diferente das merdas pseudo-erótico-literárias que vão aparecendo por aí.
Este senhor não tem vergonha de escrever o que sente e como sente, mesmo depois de no prefácio assumir a ligação autobiografica com o personagem principal, e para isso é preciso ter uns «cojones» do tamanho de laranjas!
Não imaginava que ainda viesse a conhecer um novo autor erótico que me mostrasse maneiras novas de ler e de me prender à história e às descrições, mas cá está ele. É um dos livros mais brilhantes que li este ano.
"Deslizou até mim e a sua boca procurou os meus lábios. O meu caralho inchava de novo. Apercebendo-se disso, agarrou-o firmemente. Depois largou-o e a sua face veio pousar-se no meu peito.
- Gostas dele, do meu sexo?
Esbocei um movimento mas ela impediu-me de fazer qualquer gesto.
- Não te mexas. Diz-me. Gostas dele?
Tinha fechado os olhos; não era muito difícil reencontrar-lhe o sabor na memória.
- Gostas de penetrá-lo? Olhá-lo? Lá em baixo, desejaste-me mal me viste. Tinhas adivinhado tudo isto?
Tudo isto era ela.
- Sim.
- Então és pintor. Ou fotógrafo."
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