8.7.08

roubados à estante

"O Fantasma de Bella B." - Raymond Jean

Fraquinho! Desilusão total! Básico!
Estou indeciso ente qualquer um destes epípetos, mas vai tudo dar ao mesmo se usar o jargão convencional: é uma merda!
É um livro de pequenos contos que vale apenas pelo primeiro (o que dá o nome ao livro). É chato, é monótono, é vulgar, é, repito, uma merda.
Há muito tempo que uma viagem de comboio não me parecia tão grande... os quilómetros foram os mesmos, o livro é que era mau!

"Tenho uma estranha propensão, quando observo pessoas sem o seu conhecimento, para emprestar-lhes toda a espécie de atitudes, de comportamentos, de pensamentos que não existem senão na minha própria imaginação."



Quem escreve assim, quem sente assim, quem vive assim, não as bate todas.
Ou era demasiado absinto, ou sexo a menos, mas alguma coisa desequilibrava o Nando... e ainda bem!
Se não houvessem desiquilibrados, o mundo era uma merda. Eu teria de me resumir a ler, ouvir e conviver com gente "normal". Assim, não me sinto tão mal por ser quem e como sou.
Não quer isto dizer que sou como ele era... tomara eu ser tão normal e aceite socialmente como o Nando. Mas ajuda!
Talvez daqui a meio século haja uma Clara Ferreira Alves a comentar positivamente a minha vida privada, os meus defeitos, as minhas mocas, as minhas paranóias, os meus vícios, os meus "eus"... Talvez.

"Os Deuses da tormenta e os gigantes da terra
Suspendem de repente o ódio da sua guerra
E pasmam. Pelo Vale onde se ascende aos céus
Surge um siêncio, e vai, da névoa ondeando os véus,
Primeiro um movimento e depois um assombro.
Ladeiam-no, ao durar, os medos, ombro a ombro,
E ao longe o rastro ruge em nuvens e clarões.

Em baixo, onde a terra é, o pastor gela, e a flauta
Cai-lhe, e em êxtase vê, à luz de mil trovões,
O céu abrir o abismo à alma do Argonauta"


"Autos" - Gil Vicente

São impressionantes as capacidades da memória. Não sei como é possível ler em voz alta o "Auto da Barca do Inferno" e automáticamente lembrar-me do que vou ler a seguir, da mesma forma e com a mesma entoação com que li no 9º ano. Lembro-me que na altura, gostei tanto, mas tanto(!) de Gil Vicente que lia os textos em casa mesmo sem a professora mandar.
A declamação dos textos em voz alta dá outro sabor à leitura (como acontecia no 9º ano!), mas preciso de um par para fazer os diálogos. Chateia-me alternar as vozes entre o diabo e os restantes personagens... mas só assim é que tem piada!
Grande Gil!!

"DIABO - Que é isso, padre?! Que vai lá?
FRADE - Deo gratias! Som cortesão.
DIABO - Sabeis também o tordião?
FRADE - Porque não? Como ora sei!
DIABO - Pois entrai! Eu tangerei e faremos um serão. Essa dama é ela vossa?
FRADE - Por minha la tenho eu, e sempre tive de meu.
DIABO - Fizeste bem que é fermosa! E não vos punham lá grosa no vosso convento santo
FRADE - E eles fazem outro tanto!
DIABO - Que coisa tão preciosa... Entrai padre reverendo!"

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