20.8.08

livros do Verão


Muitas vezes me interroguei porque não havia manifestações de orgulho hetero, onde eu pudesse empunhar orgulhosamente cartazes com dizeres do género "Eu gosto de gajas", apesar existirem manifestações gays, onde os larilas desfilam em tom desafiador, e (pasmem-se!) com autorização dos Governos Civis.
Perguntei-me porque não existe um ciclo de cinema hetero, apesar regularmente se fazerem ciclos para paneleiragem, e (pasmem-se outra vez!), com direito a subsídios e tudo.
Questionei-me porque não existe um roteiro hetero em Lisboa, sabendo que qualquer rôto que queira levar na anilha tem ao seu dispôr um pequeno guia pago pela CML.
Temi ir preso ou ser espancado na rua por beber cerveja Tagus, que numa campanha apelava ao orgulho hetero, mas os bichonas até bebem mijo se isso implicar um broche numa casa de banho pública.
Apesar de muita gente se questionar como eu, infelizmente, e seja por cobardia ou para não deixar de estar na moda social de aceitação dos rôtos, nada dizem e nada fazem... estamos acomodados e os paneleiros, aos poucos, vão conseguindo direitos e privilégios que eu, por ser hetero e gostar de gajas, não tenho!
Felizmente, existe um senhor que não se calou e até escreveu um livro. Hilariante do princípio ao fim, mordaz, irónico, directo, mas ao mesmo tempo muito sério.
Há os gays assumidos... pois eu sou homofóbico assumido, e já saí do armário à muito tempo!
Heteros de todo o mundo, uni-vos!

"Hesitei muito tempo antes de escrever cruamente, preto no branco, o que até aqui estava na categoria do indizível. É uma confissão difícil de formular, por tocar tanto no íntimo do meu ser, mas enfim, lanço-me de cabeça e confesso já sem pudor: sim, sou heterosexual. Pronto, está dito... Nem me vanglorio nem fico desolado, é assim mesmo. A minha heterosexualidade não é nem uma provocação nem uma perversão: é uma realidade. Sem pretender, neste momento, fazer conjecturas sobre o carácter inato ou adquirido desta particularidade sexual, direi no entanto que nasci assim..."
(...) Mas se o heterosexual exclusivo é realmente uma anomalia e uma raridade, convenci-me de que era de extrema urgência publicar este «Elogio da Heterosexualidade», antes que me ponham numa redoma ou que me encerrem a mim e aos meus congéneres numa reserva que será objecto de visita pelas crianças das escolas: «Eis alguns exemplares de homo heterosexualis, dos finais do segundo milénio, princípios do terceiro, ainda bem conservados...»
(...) Pela nossa parte, e para ilustrar este desejo de conciliação, temos um capítulo muito amigável e, podemos dizê-lo, apaixonante, dirigido aos nossos amigos gays curiosos ou amadores de exotismo: «A heterosexualidade explicada aos homossexuais» onde exporemos, espero que sem os chocar, as nossas saborosas prácticas com o sexo oposto."


"Espera, Põe-te assim" - Andreu Martín

"O prazer de apalpar mamas não se encontra unicamente no tacto, mas sobretudo no efeito que provoca na mulher acariciada. O suspiro, o gemido, o olhar que se turva, o músculo que cede. Não se trata da pura sensação táctil, mas sim a sensação de triunfo, de domínio, que provoca no acariciador. «Já cá cantas.» Ela fica à nossa mercê. A mulher fecha os olhos, cai, entrega-se, desmaia-se, morre nas nossas mãos, morre finalmente ensartada, cai sob o vencedor. Talvez por isso, a maioria dos homens não resiste a demonstrar o nosso gozo durante o orgasmo, retesamo-nos e grunhimos, como grunhe o macho da manada quando derrota o rival.
Porque o gemido e o desmaio são sinais de derrota."


"História do Beijo" - Gérald Cahen

"(...) o significado último do beijo reside talvez no fundo desta ambiguidade: posso-te comer (e vontade não me falta!), mas deixo-te em paz, só vou até aflorar-te os lábios revelando-te o meu desejo e indicando-te pelo mesmo gesto que renuncio a ele. Se admitir, com Emmanuel Lévinas, que o rosto de outrem se identifica para mim com a lei moral e me impõe, pela sua mera presença, um Não matarás categórico, então terei de dizer que este instante em que estendo os meus lábios para ele é aquele em que dou forma a este mandamento. Invertendo os sinais, abdico oficialmente do meu poder de fazer mal, recolho as garras para deixar apenas aos lábios o cuidado de avançar... e de retirar. Por outras palavras, reconheço o outro por aquilo que é: um ser humano totalmente diferente e distinto de mim com o qual, pelo tempo de um beijo, mantenho a aliança."

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