5.12.07

update literário

"Homens-Aranhas" - Rui Zink

Comprado em 2003, esteve na prateleira até Março passado... e se calhar podia lá ter ficado. É composto por dez histórinhas de bolso, cheias de memórias e recalcamentos infanto-juvenis do autor. Nunca tinha lido nada de Rui Zink, e se a ordem dos contos fosse outra, talvez tivesse ficado pela primeira página, pois o próprio autor faz uma advertência ao leitor na 5ª historieta ("Preso nas páginas de um livro").

«Creio ser meu dever informar que a leitura desta história não é pacífica. Há antecedentes graves e, embora ainda não exista propriamente um diagnóstico exacto, é aconselhável não prosseguir desta linha em diante. Fechar o livro talvez seja demasiado drástico, mas passar à frente deste conto será a atitude mais sensata a tomar - na minha opinião. Bem sei, infelizmente, há outras opiniões para além da minha. Infelizmente, até à data, poucas pessoas prestaram atenção à minha opinião.»


"Introdução ao Direito do Património Cultural" - José Casalta Nabais

Comprado e lido 'de rajada' em Junho, na véspera do exame do módulo "Gestão do Património Cultural: Arquitectura, Ambiente e Urbanismo", leccionado pela Doutora Helena Marques, do IPPAR, no Curso de Especialista em Património, Ambiente e Turismo Cultural. Quer em termos da teoria do património cultural, quer em termos de explicação e comparação de legislação, o livro é excelente para ter à mão, mesmo para um leigo em matérias de direito como eu, mas não evitou uma nota inferior à que eu gostava. A culpa é dos velhos hábitos de estudante que lê coisas importantes na véspera! Este livro fica bem guardadinho e espero que ainda me venha a dar muito jeito.

«... o conjunto de bens que integram o património cultural não pode ser visto de uma forma estática, que se esgota na mera conservação e preservação ou defesa dos bens culturais herdados das gerações passadas para serem usufruídos pela geração presente e transmitidos às gerações vindouras. Antes deve ser entendido em termos abertos, dinâmicos e vivos de molde a compreender não só o tradicional direito de acesso à fruição dos bens culturais de que goza a geração presente nas suas múltiplas e diversificadas manifestações, mas também, de um lado, a sua valorização ou enriquecimento, que constituem dever de todos os cidadãos e tarefa da comunidade cívica e sobretudo da comunidade estadual e, de outro lado, a abertura para abarcar os chamados bens culturais em devir. Algo que, de resto e a seu modo, não deixa de estar presente na formulação feliz do nº1 do art. 3º da actual Lei do Património Cultural (LPC), que se dispõe que "deve o Estado assegurar a transmissão de uma herança nacional cuja continuidade e enriquecimento unirá as gerações num percurso civilizacional singular".»


"Em Nome de Deus" - David Yallop

Confesso que antes de o ler desconhecia a história de Albino Luciani - o Papa João Paulo I (antecessor de Karol Wojtyla - Papa João Paulo II) que morreu 33 dias após a sua eleição. O livro está escrito em jeito de jornalismo histórico de investigação, pelo que, se por um lado é rico na explicação de antecedentes, ambientes e intervenientes, por outro, é um livro que exige um bloco de notas ao lado para ir traçando a teia entre todos os envolvidos, sob pena de já não se saber quem é quem logo ao fim de umas dezenas de páginas. Do Vaticano, à Máfia, à CIA, aos governos italiano e americano, às grandes empresas, e à Maçonaria, todos estão referenciados como tendo estado, directa ou indirectamente envolvidos no suposto assassinato do Papa. Não é um livro fácil. Exige voltar atrás muitas vezes, tomar notas, rabiscar o livro (como eu gosto de rabiscar os livros!), mas sinto que hoje sei mais um bocadinho sobre algo de que nada sabia.

«Agora, após 33 únicos dias como papa, Albino Luciani morrera sozinho. Causa da morte? Hora da morte?A seguir a um dos mais breves Conclaves da história, um dos reinados mais breves. Em quatrocentos anos nenhum papa tinha morrido tão depressa depois da eleição. Para encontrar um papado mais curto é preciso remontar a 1605, ao Medici Leão XI que reinou 17 dias. Como tinha morrido Albino Luciani?»


"Os Demónios do Convento" - Cristina Sànchez-Andrade

Adorei!
Tanto, que conto relê-lo em breve.
Tanto, que antes de o terminar já tinha feito um post sobre ele aqui.
Acho que foi o único livro que li até hoje com um narrador colectivo (as freirinhas do convento), e ainda por cima tão bem humorado, sensual e perverso.
Repito, adorei!

«Por aquela época, o costume do marquês de visitar o nosso convento já alimentava as conversas e os murmúrios dos criados e isto era algo que dona Brígida de Bracamonte não podia suportar. Don Íñigo saía ao jardim, caminhava em bicos dos pés para que as folhas do chão não estalassem à sua passagem, agachava-se à altura do gradeamento, apanhava uma margarida ou uma tulipa, segurava-a entre os dentes, escalava o muro do convento e saltava para o outro lado como um ladrão. Uma vez no claustro empreendia uma corrida até à cela de uma das noviças, qualquer uma, a que cheirasse a casca de maçã ou a sabão (oh, gloriosas!), os seus sapatos de verniz faziam clic sobre as lajes de mármore.»

Sem comentários: